Friday, March 31, 2006

O Melhor Lugar do Mundo


Uma idéia muito propagada é a de que vivemos numa grande aldeia. A internet e agora a tal da VOIP reduzem as distancias e aproximam as pessoas. Muito romântica a idéia. Basta ligar um computador, ajustar a camera e microfone e logo estamos falando com quem sentimos falta. Se a imagem não é tão importante, então podemos passar horas ao telefone conversando qualquer assunto com qualquer pessoa e assim matar a saudade e nos sentir mais perto.

Sabe o que eu acho disso? Tudo mentira! Coisa de marketing das companhias de tecnologia para nos fazer comprar todas as novidades que saem no mercado todos os dias. Um telefone ou um microfone e uma tela de computador nos dão uma sensação falsa de proximidade. Três mil milhas ainda continuam sendo três mil milhas e essa é uma distancia enorme. Quero ser hoje o anti-romantico, o estraga-prazeres ou o "seja-lá-o-que-for". Não me importa o título que me concedam, mas quero dizer que quando dizem que os corações se encontram mesmo na maior distancia, não acreditem, é mentira. Quando dizem que não existe distancia para a linguagem do amor e amizade, não acreditem, é mentira. Quando dizem que "o melhor lugar do mundo é aqui e agora", não acreditem, isso pode ser uma grande mentira.

Portanto, dentro da minha rebeldia de hoje quero deixar claro que o melhor lugar do mundo é onde queremos estar, com quem queremos estar e fazendo o que queremos fazer. Então, me perdoem os poetas e afins, mas o "melhor lugar do mundo" é utopia ou, como se diz no popular, "conversa para boi dormir"!

P. S. Post escrito após ler um scrap no Orkut da minha grande amiga Teresa Ferreira.

Friday, March 24, 2006

Tantas Cores


O céu é azul e a nuvem branca,
a floresta é verde e o mar azul,
a areia é branca e o piche preto;

O amazonas é marron e o negro negro,
a gérbera é laranja e a rosa rosa,
o exército é verde e a marinha marinho;

Um vinho é tinto e o outro branco,
o amor é amarelo e a paixão vermelha,
a inveja verde e a esperança também,


o céu de tempestade é cinza e sol ensolarado é ouro,
os seus olhos são mel e os meus pretos,

o rosa é choque e o azul claro,

o arco-iris tem muitas cores e muitas coisas não tem cor nenhuma;

assim como a paz é branca e na guerra falta cor,
hoje estou bem blue e amanhã, que cor?

Thursday, March 16, 2006

Um Homem Sem Nome


Ele era pontual, era trabalhador, era responsável, era organizado. Era discreto, muito discreto. Acordava cedo para fazer a barba, pentear os cabelos, se vestir, comer alguma coisa, escovar os dentes e, antes de sair, arrumar a cama. O percurso era o mesmo para o trabalho. Dobrava a primeira à direita onde estava a farmácia. Depois seguia direto até uma videolocadora que ficava à direita virando então à esquerda e mais quatro quarteirões. Trabalhava ali desde muito tempo. Não era gerente geral e nem de setor. Mas era quase assessor de gerência, quase importante.

Todo dia tirava a hora do almoço no mesmo horário. Como morava perto, comprava comida ao quilo e levava para comer em casa com um copo de suco. Arrumava ou lavava alguma coisa e voltava para a segunda parte do dia. Depois do expediente, às quartas-feiras passava no banco para tirar um extrato da conta e às sextas-feiras ia ao super-mercado comprar o que faltava para a semana seguinte. Não estocava mercadoria, apenas o necessário para uma semana.

Nos finais de semanas, andava um pouco perto do condomino de apartamentos módicos onde morava e isso servia de exercício fisíco. Talvez a praia, ou um giro no shopping center, ou uma sessão de cinema. Nunca a última sessão para não dormir muito tarde. Quando não, ia até a locadora e sempre demorava uma meia hora para escolher algum filme dramático, com finais pesados, chorosos. Os assistia na pequena tv de 20 polegadas sem tela plana, sem surround e com as luzes apagadas para dormir ali logo após os créditos do filme.

A semana passou exatamente como as anteriores e a atividade planejada para o final de semana foi uma visita à locadora e um filme dramático. O filme se desenrolava e ele se sentia leve. E no meio do filme ele dormiu, não um sono dramático, mas um sono leve, pacífico, sem dor, sem barulho e sem fim. Não haveria mais trabalho, nem extratos de banco às quartas-feiras, nem super-mercados às sextas-feiras, nem andadas, nem shopping, nem filmes nos finais de semana. Não haveria também gás no bujão. Junto com ele, também se esvaiu.

P.S. Texto baseado na letra da música "Um Homem Chamado Alfredo" (Vinícius/Toquinho)

Friday, March 10, 2006

Tudo começou com uma Pacífica


Fui hoje pela manhã com meu irmão alugar um carro para ele ir até Miami no fim de semana. Alugamos uma tal Pacifica da Chrysler, um carro luxuoso, espaçoso, tecnológico. Não cheguei a dirigir nem 5 minutos e já queria comprar um igual, da mesma cor, com a mesma potência, com os mesmos dois assentos extras no porta-mala oferecendo a possibilidade de rebaixá-los abrindo espaço para o maior porta-malas do mundo. E sabe a conclusão que cheguei: quero vender o meu Elantra e Rodeo para dar de entrada num carro desse ou até fazer um financiamento junto ao banco e ficar devendo por 6 anos para poder colocar essa máquina no meu estacionamento.

Apesar de já ter me recomposto dessa vontade ímpeta de puro consumismo, pensei em outras possibilidades de compras. Veja a lista:

> Uma casa enorme com jardins majestosos e um quarto de casal grandioso o suficiente que se possa passar um fim de semana sem necessidade e nem um pingo de vontade de sair de lá.

> Uma televisão slim de 52 polegadas acoplada a um surround digno de assistir ao melhor filme com os melhores efeitos sonoros que Hollywood já produziu.

> Ter um jatinho para ir a qualquer lugar a qualquer momento por quanto tempo desejar.

Tem muito mais, mas essa amostra já revela um puro non-sense, uma tremenda asneira. Não que não se tenha vontade de ter essas coisas, mas elas levariam qualquer um a se desconectar do mundo e viver isolado e trancafiado. Preferível seria a prisão dos sonhos pois essa ainda nos dá a possibilidade real de realização e satisfação. Se não liberados os sonhos, pelo menos não nos desconectamos dos relacionamentos reais que a vida nos presenteia quando nos tornamos gente com alma e coração.

Comovente o parágrafo acima! Mas que o carro, a casa, a televisão e o jatinho viriam a cair feito uma luva, disso eu não tenho dúvida!!! Caso eles se tornem realidade, alguém se habilita a não me deixar me desconectar da realidade??? :))

Friday, March 03, 2006

O País das Meias


Essa semana abri minha gaveta de meias e percebi que mais duas estavam sem o seu devido par. Sozinhas, isoladas, abadonadas. Sairam para ser lavadas e no caminho de volta para a gaveta se perderam, se separaram. E por que isso acontece? O que acontece com as meias que não voltam às gavetas?

Depois de uma curta meditação, resolvi desvendar o mistério das meias desaparecidas. E qual a melhor maneira para fazer isso? Nos tornar uma meia, nos envolver no meio das meias.

Pronto, sou uma meia. Minha parceira e eu somos um par de meias elegante. Nada de material sintético. 100% de algodão puro e escovado, daquelas social macia e que abraça o pé como só uma meia sabe fazer. Recém saida da embalagem, somos vestidas em pés sem calos, sem rachaduras e sem cheiro desagradável. Até o sapato é de couro novo. Italiano! Nós nos sentimos em casa, a vontade...o sonho de toda meia.

Depois de tantas indas e vindas do pé, para a máquina de lavar, para a gaveta, para pé, para a máquina de lavar, para a gaveta... Ufa!! Que rotina mais entediante essa de ser meia. Foi quando pensei que deveria haver muito mais do que apenas ser uma meia usada, lavada e guardada. Deveria haver um lugar mais interessante do que cobrir aquele mesmo pé naquele sapato de couro. Cheguei a conversar sobre isso com o meu par, a outra meia, mas ela achou a coisa mais absurda. Meia nasceu pra ser meia até furar e ser jogada fora, sem vida, mal cheirosa, furada. Mas eu não me conformava com essa idéia. E foi de pensar tanto que descobri com transceder do mundo de cobrir pés para o mundo das meias. Isso mesmo, o Mundo das Meias!!!

Um dia, no caminho entre ser lavada e ir para a gaveta, transcedi e nunca mais voltei. Nem o meu par meia sabe para onde fui. Fico com pena dela sozinha no canto da gaveta sem par esperando a qualquer hora virar brinquedo de boneca. Enquando eu estou aqui desfrutando do Mundo das Meias. E pelo número de meias sem par aqui nesse mundo, parece que a coisa é bem popular. Melhor ser uma meia 100% algodão puro escovado e livre no meu próprio país a ter que vestir pés dia após dia, após dia, após dia...


P.S. Vocês já pensaram no mundo dos lápis, das borachas, das moedas, das chaves... Quem consegue transceder é que é feliz!!

P.S. Esse post é dedicado a você que me pediu pra escrever um pouco de besteirol. :)


P.S. Será que a estória tem uma moral???