Era como se tivesse voltado à adolecência. Joga uma muda de roupa na mochila, pega uns trocados na gaveta, calça a Havaiana, coloca um pouco de gasolina no tanque e pega a estrada. Não foi bem assim nessas proporções básicas, mas foi muito assim dado a maneira como aconteceu.
29 de dezembro de 2005. O caminho foi o mesmo para o trabalho, mas a coragem não. Meio que me arrastei e me forcei a trabalhar. Acho que eu estava precisando do telefonema que recebi para tomar um caminho diferente e com a coragem redobrada. Minha filha me telefona perguntando se iríamos sair à noite. Essa é uma pergunta básica do vocabulário dela, não importa se é uma segunda-feira e eu chegue cansado e estressado do trabalho. Ela sempre quer fazer alguma coisa fora de casa. Mas nessa última sexta-feira de 2005 a pergunta soou como música. Naquele momento após ouvir a pergunta, para mim mesmo respondi que sim. Definitivamente iríamos sair a noite. Eu não tinha a menor idéia para onde sairíamos, mas sabia que sairíamos para algum lugar perto ou longe, mas algum lugar que não fosse ficar em casa.
Depois de alguns telefonemas a reserva estava feita. Destino final: Stone Mountain, Georgia. Seis horas de viagem nos separavam do nosso destino. Pegar um vôo para Atlanta? De maneira nenhuma!! Queria mais era o prazer de passar seis horas dentro de um carro no último suspiro de 2005 com as três mulheres da minha vida.
(Minha vida tem muito mais mulheres, mas essas três moram comigo!! Jealousy Kills!!).A passada em casa só foi para pegar as mochilas, passar a mão no dinheiro que ainda estava escondido na latinha de metal para alguma ocasião especial exatamente como essa, o AMEX na carteira para socorrer nas emergências, uns mapas básicos no laptop para não ir parar em New York e a vontade imensa de cair na estrada. Com o espírito que nós estávamos para essa viagem surpresa, até o hotelzinho de beira de estrada por $30.00 a diária era uma festa.

Já em Stone Mountain, os dois dias que passamos ali foram especiais. O colchão e travesseiros de penas de ganso eram confortabilíssimos; a paisagem era belíssima; o clima era friozinho como de serra; me empanturrar de McDonald's e Pizza Hut por causa das crianças não foi tão ruim assim; fazer o tour da CNN foi imprescindível; ver as crianças patinar no gelo foi emocionante e o tempo aproveitado com três pessoas que fazem de mim um dos homens mais feliz do mundo não teve preço.
E na volta da viagem e exatamente nesse momento que estou escrevendo fico pensando naquela pergunta que minha filha me faz pelo menos umas quatro vezes por semana: "A gente vai sair hoje?" O que que tem por trás dessa pergunta? Vejo que na visão de uma criança, o fato de sair de casa representa a novidade, o diferente. E isso é exatamente o que precisamos para não cairmos na monotonia da vida: novidades e coisas diferentes.
Felizmente naquela última sexta-feira do ano respondi a tempo e optei pelo novo e diferente. Demos sorte de ter podido viajar e ver paisagens novas e pessoas diferentes. Mas se não fosse assim e as paisagens não tivessem sido tão diferentes e nem tão diferentes fossem as pessoas, mesmo assim a saída teria que ter proporcionado o mesmo bem estar e a sensação de estar vivendo melhor. Isso sim, era fator primordial.
Portanto, de agora em diante quero sempre me perguntar: "A gente vai sair hoje?" E quero sempre ter respostas criativas para essa pergunta porque "a vida não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém..."
A propósito, você vai sair hoje?